Ônibus articulado do MOVE, em Belo Horizonte
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Atualmente, com o sistema BRT, algumas capitais estão
sendo inundadas com os ônibus ‘de sanfona’. Porém junto com a admiração em
relação à estes veículos, vêm a pergunta: “como elas funcionam ?”
Bem, com o texto abaixo o nosso blog espera saná-la.
Conceitos
Gerais.
Quando vemos a ‘sanfona’ do ônibus, na verdade estamos
vendo apenas a cortina sanfonada, pois a articulação está escondida. Logo o
correto é falarmos em SISTEMAS PARA ARTICULAÇÕES.
O sistema para articulações tem o objetivo de garantir a
flexão entre duas composições e a conexão entre elas, como se estas se
tornassem um só veículo. Esse sistema possui três medidas de flexão: flexão
horizontal, flexão vertical e torção lateral. No caso chama-se torção, mas é um
tipo de flexão garantido por luvas ou capas de borracha em encaixes estratégicos
da peça de articulação. A torção do MATERIAL DA PEÇA de articulação é à parte.
Além dessas medidas do sistema, a peça de articulação,
que faz parte dele, possui 3 funções:
flexionar e puxar, ou empurrar, composições. Quando a TRAÇÃO está ANTES dela,
esta puxará uma composição e portanto atuará como ‘PULLER’ (exemplo de modelos
que atuam como puller, são Volvo B58E, Volvo B10M, Volvo B340M e Volvo B360S).
Se a TRAÇÃO estiver DEPOIS da articulação, esta atuará
como ‘PUSHER’ (exemplo de modelos que atuam como pusher são Mercedes O400UPA,
Mercedes O500MA e Scania K310UA).
No caso destacamos o termo ‘tração’ porque a posição do
motor é irrelevante, conforme demonstraremos no texto abaixo. Para facilitar o nosso entendimento, chamaremos de ‘articulação’,
a peça de articulação do SISTEMA DE ARTICULAÇÃO.
Como
funciona a articulação (peça)
A maioria das articulações dos dias atuais funciona de
uma maneira simples: para a flexão vertical são utilizados punhos, ou
dobradiças instalados apenas em um das extremidades da peça.
A flexão horizontal é obtida graças a um anel
rolamentado, mais conhecido no Brasil como rotor, ou rótula. Além dos
rolamentos permitirem essa flexão, a rótula tem a função de unir as duas peças
de articulação e portanto suportará a concentração de forças verticais e
horizontais das 2 composições. Como o rotor gira à 360º, as peças
precisam de esporas que delimitam a flexão da articulação, evitando o efeito L.
Por último, temos a torção lateral, que embora seja
obtida de acordo com o projeto de cada fabricante, nó mínimo tem origem nas
luvas e capas de borracha geralmente instalada nos encaixes e anteparos da peça.
O objetivo é evitar, em determinados ângulos, uma grande concentração de estresse
à articulação e à estrutura do ônibus.
Contudo essa articulação é ideal se a tração for antes dela, pois neste
caso, falando à grosso modo, as inércias
das 2 composições estarão no mesmo sentido e a rótula será tracionada flexionando
( a articulação) quase de acordo com esterçamento das rodas dianteiras, quando o ônibus
estiver ‘em marcha á frente’.
Se a tração for depois da articulação, a inércias se
convergirão e a rótula será comprimida deslizando-se sobre os rolamentos e
flexionará (a articulação) de forma descontrolada, ou seja: ao invés de empurrar
a composição à frente, esta (rótula) a move em diagonal.
Para resolver esse problema, as fabricantes utilizavam
eixos homocinéticos para permitir a tração antes da articulação, como a Saurer
e o seu modelo 4 Gp. Porém no final da década de 80 a Mercedes Benz ajudou a financiar
e posteriormente comprou a patente de uma empresa alemã, que resolveu essa situação.
Diferença
entre articulação Puller e Pusher
A diferença visual entre uma pusher e puller, é que a
segunda é mais simples, dispensando controle eletro-hidráulico: portanto mais
barata para adquirir e manter. Desta forma a tração antes da articulação sempre
foi considerada menos onerosa para as empresas e é por isso que tivemos muitos ‘articulados’
com motor ‘dianteiro’ e ‘entre eixos’. Porém com a necessidade de diminuírem a
altura do piso em relação ao solo, os motores ‘traseiros’ se tornaram populares
e a puller passou e ser mais vista nos chassis da Volvo. Contudo, Van Hool, MAZ,
Neoplan, Hess e algumas fabricantes chinesas ainda utilizam motores ‘laterais
entre eixos’ que permitem essa articulação mais simples.
Já articulação pusher possui amortecedores hidráulicos de
dupla ação, onde há uma comutação hidráulica, cerceada por válvulas solenoides controladas
por uma central eletrônica que obedece o esterçamento das rodas dianteiras.
No caso, quando uma quantidade de óleo ‘sai’ de uma extremidade
do amortecedor, ela ‘vai’ para a outra: essa comutação ‘trava a rótula
momentaneamente’, evitando que a mesma deslize sobre os rolamentos antes da primeira
composição ser empurrada. Infelizmente, no passado, tivemos problemas nas
conexões hidráulicas e na rótula por causa da qualidade destes componentes, ou
falha na unidade eletrônica que controlava a pressão hidráulica de forma
desordenada: problemas praticamente sanados atualmente.
Sistema para Articulação
O sistema para articulação, além da articulação, é
composto por cortinas sanfonadas, trilhos estabilizadores, conexões de energia
ou combustível, e conexão de passageiros (plataforma).
As cortinas servem para proteger as conexões de energia
ou combustível, e conexão de passageiros. A ‘sanfona’ é garantida pelos trilhos
unidos ao material das cortinas.
A conexão de passageiros é composta por uma plataforma semi circular, ou circular, que desliza junto com o trilho
estabilizador ou rótula (dependendo da fabricante). Geralmente esse movimento
possui leves atrasos em relação ao movimento da rótula garantidos por
engrenagens redutoras instaladas na mesma. O objetivo é evitar movimentos bruscos
da plataforma, que causariam acidentes quando o passageiro andasse por cima
dela.
Os trilhos estabilizadores servem para evitar a ruptura
das conexões quando a rótula for flexionada. O trilho estabilizador central,
geralmente, dependendo da fabricante, possui engrenagens redutoras que atrasam
o seu movimento, em relação aos bruscos da rótula. Os mais comuns são o central
que divide a cortina, e o meia lua que, preso ao central por uma carretilha,
desliza de acordo com a flexão da rótula, evitando esticá-los, o que poderia
causar as suas rupturas ocasionando graves acidentes, já que conectam energia.
Curiosidade: Algumas articulações pusher e puller pouco utilizadas atualmente
Os ônibus articulados são antiquíssimos e, de forma
resumida gostaríamos de mostrar outros tipos de articulação que são diferentes
das exemplificadas acima.
Articulação Macchi Autotreni (1934): é o primeiro sistema
inventado. A articulação é uma puller com flexão horizontal obtida por parafuso,
e a vertical por 4 dobradiças fixas nas
duas composições. A cortina é estreita e a plataforma é uma tábua flexível.
Articulação Fageol (1935?): é uma puller com flexão vertical
por dobradiças. Não tem flexão horizontal.
Urbinatti (1940, em ônibus): é a mãe da articulação puller
com rótula, mas possui 2 semi circulares para flexão horizontal sendo a vertical
por punhos. A plataforma era tão estável que foram instalados 4 assentos sobre
ela.
Mercedes Benz (1978): criada pela alemã FFG, a pusher da
Mercedes Benz foi a primeira da categoria, mas possui um mecanismo curioso: ao
invés de 2 amortecedores de dupla ação, foram usados 4 simples: dois na
primeira composição e dois na segunda. Já o mecanismo eletro-hidráulico é o
mesmo das pushers atuais.
Hübner (1990): possuía articulação pusher semelhante ao
da MAN onde apenas um amortecedor ‘dupla ação’ com controle eletro-hidráulico evitava
o deslize da rótula sobre o rolamento. Este amortecedor travava a mesma através
de uma cremalheira. Curiosamente tivemos essa articulação nos Mercedes Benz O400UPA.
MAN (1985 ?): foi uma resposta a Mercedes Benz, na época
detentora da tecnologia pusher, onde foi usado o mesmo mecanismo da Hübner, mas
com amortecedor na primeira composição.
Vetter: (1981 ? ) : é uma pusher sem controle hidráulico pois a flexão é controlada pelo eixo dianteiro devido ao fato do segundo eixo ser depois da articulação.
Excelente artigo... Simples, didático, prático e objetivo. Parabéns!
ResponderExcluirexcelente
ResponderExcluirQue bacana! Sou de Belo horizonte e fico olhando estes BRT"s daqui e tinha esta grande curiosidade. Não tinha ideia de como funcionava um chassi com tração antes da articulação. Como poderia o bloco de trás empurrar a parte da frente sem esta desgovernar?! Ficava extremamente curioso. Digitei até achar esta explicação. Espetacular!
ResponderExcluirMuito obrigado pelas explicações. Simples e esclarecedoras! Valeu!
Que bacana! Sou de Belo horizonte e fico olhando estes BRT"s daqui e tinha esta grande curiosidade. Não tinha ideia de como funcionava um chassi com tração antes da articulação. Como poderia o bloco de trás empurrar a parte da frente sem esta desgovernar?! Ficava extremamente curioso. Digitei até achar esta explicação. Espetacular!
ResponderExcluirMuito obrigado pelas explicações. Simples e esclarecedoras! Valeu!
Muito bom, obrigado pelo artigo!
ResponderExcluirGostaria de saber quem são os fabricantes das rotulas com motor dianteiro
ResponderExcluirOla qual é a NBR que regulamenta o padrão de construção dos onibus articulados ou qual NBR fala da articulação ? obrigado
ResponderExcluirTodos os coletivos estão sujeitos à NBR 15570/08, além da normas de cada prefeitura.
ExcluirOlá, estou fazendo uma pesquisa sobre veículos articulados. Você tem alguma fonte de consulta onde possa aprofundar no material?
ResponderExcluirObrigado e parabéns pelo artigo, muito explicativo.